Sunday, September 23, 2012

C

Coragem ou comodismo?!


Quase tudo na vida é dual, sendo muito natural que Portugal o seja também. Daí que oscilemos frequentemente entre a coragem e o comodismo.
Em Portugal, há (naturalmente) portugueses, e eu sou um deles, ainda com orgulho por sê-lo mas já com pouca paciência para o país em que vamos vivendo. Devido a esta desilusão, talvez tivesse sido um gesto de coerência participar nas diversas manifestações a que temos assistido, a última das quais anteontem, com um vigília à porta da residência oficial do Presidente da República.
Não é por falta de coragem, e muito menos por comodismo, que tenho estado ausente. De resto, essa ausência é apenas física. Tenho seguido todas as incidências que a televisão mostra com o máximo de atenção. E compro os jornais do dia seguinte, para precaver algum lapso de memória que surja no meio do turbilhão de patifarias que vão sendo executadas. Faço-o porque estou do mesmo lado da luta dos indignados, dos jovens, dos reformados, dos simplesmente adultos, dos que pedem a demissão de Miguel Relvas; de todos!

Criou-se durante muito tempo uma narrativa que defendia que só não trabalhava quem não queria, por preferir receber os subsídios que tivesse ao seu dispor, fossem de desemprego, de reinserção ou de outra coisa qualquer. Era uma narrativa incompleta, para não lhe chamar mentirosa; se bem que tomar a parte pelo todo não é, nem nunca será, uma boa política.
Neste momento, é diferente. O que se ouve são muitas pessoas a afirmar que querem trabalhar. Querem trabalho, nem sequer pedem um emprego. Querem fazer algo por si e pelo país, como os políticos gostam de referir. São as mesmas pessoas que já queriam antes, que sempre quiseram! Também se ouve pessoas a reivindicar direitos e regalias, com os quais sempre viveram e cuja perda não é suficientemente explicada, e muito menos compreendida, dada a sua ilegitimidade.
Quem ganha menos de mil euros – e não é preciso perceber muito de estatística para perceber que a moda e a média não são a mesma coisa – não pede um motorista particular, nem um segurança privado a seguir as suas pisadas, nem ajudas de custo para deslocações e almoços, chegando a aceitar com relativa passividade que lhe aumentem a carga horária diária em meia hora, uma hora, uma hora e meia ou até duas horas. Pedimos (sim, eu sou um deles) apenas que não nos tirem mais nada. Ou que, se nos tirarem, que comecem os cortes por quem tem mais, por quem ganha mais. Não é difícil fazer escalas nem definir escalões, mesmo que se perceba pouco de matemática.

Convém desde já esclarecer que não sou contra os ricos, nem os muito ricos, nem os milionários. Ainda bem que os há. Espero que continue a haver. Quem me dera ser um deles, nem que fosse apenas para provar que teria muito orgulho em pagar todos os meus impostos, e em pagar mais do que aqueles que tivessem menos.
Houve um antigo ministro das Finanças que disse, publicamente, não compreender por que motivo tinha direito a mais do que uma reforma, disponibilizando-se para ficar com apenas uma delas – talvez por ser um técnico, que trabalhou, e não um político profissional, que sobreviveu à custa de sabe-se lá o quê. Não refiro o nome do senhor em questão porque, tendo sido o único português que ouvi a insurgir-se publicamente – e mais do que uma vez – contra uma situação da qual até é beneficiário, deve ser fácil descobrir de quem se trata.
Tal como no Direito, em que se pretende tratar como igual o que é igual, e como desigual o que é desigual, também no Trabalho se deve receber de acordo com o que se produz, com a dedicação que se apresenta, a competência que se manifesta, as mais-valias que o seu empenho garante. Sou contra a existência de pobres e das desigualdades que originam o aumento de pessoas pobres, mas não sou a favor de uma igualdade cega de salários entre trabalhadores e, obviamente, empresários e empreendedores.
Em complemento à ideia supracitada, limito-me a transcrever uma frase dita há poucos dias no programa Inferno, no Canal Q, por alguém ligado ao festival Queer Lisboa e cujo nome, por lapso, não retive: “sem dinheiro, não há liberdade”. Por muita coisa que oiça ou leia, desconheço algo mais elucidativo do que isto. Voltemos aos sacrifícios.

Há justiça em um(a) deputado/a ou um antigo político reformar-se quando alguém mais velho do que ele, e que trabalhou durante mais tempo, não só não tem trabalho, como está longe da idade da reforma?
Que coerência há no prolongamento da idade da reforma para o cidadão comum quando há um aumento crescente do desemprego? Já para não falar nas empresas que não admitem trabalhadores com idade superior a 30 anos, solicitando sempre candidatos com 22 anos e com experiência…
Por que motivo se quer impor uma série de sacrifícios aos funcionários públicos, falando dessas pessoas como se ser funcionário público fosse profissão? Pensemos em três sectores ligados à Função Pública: Saúde, Educação e Justiça.
Deixámos de precisar de médicos, enfermeiros, auxiliares e uma série de outras pessoas que trabalham na área da Saúde, em prol do outro? É nestas pessoas que devemos cortar? Foram estes trabalhadores que levaram o país para a bancarrota?
Vamos continuar a não colocar docentes a ensinar, seguindo as questionáveis medidas impostas por reformas e mais reformas, fazendo com que alunos de todas as idades iniciem o ano lectivo sem professores? Ou que ainda haja turmas com três dezenas de alunos (ou mais), sabendo que está estudado há muito tempo que esse número é, pedagogicamente, desajustado?
Manteremos como supranumerários funcionários judiciais, sabendo que a Justiça continua lenta e muitos processos prescrevem sem explicações plausíveis para que tal aconteça? Vamos insistir na ideia de que as fugas de informação se devem aos ‘bandidos’ dos jornalistas ou aos ‘alcoviteiros’ dos oficiais de justiça, defendendo os deuses Procuradores e Juízes?

É certo que Portugal não é um país rico em matérias-primas. É verdade que há em nós um espírito muito latino de aldrabice, de inveja, de preguiça. Há pessoas assim e sempre haverá. Mas não somos todos assim e, sobretudo, não somos todos burros ou tapados, como julgam os espertos que nunca contam com a inteligência alheia, talvez por continuarem a confundir conceitos. E, apesar de tudo, temos alguma riqueza, que, ora devíamos desenvolver, ora devíamos preservar. Pensem no mar, pensem na floresta, pensem na terra, pensem no clima; pensem nas pessoas!
Não fomos todos adolescentes com o desejo secreto ou explícito de ser carreirista num Partido político. Não tivemos todos uma indómita vontade de enriquecer rapidamente, sem nos preocuparmos antes em trabalhar para que daí viessem frutos. Ao contrário do que diz o actual primeiro-ministro, não somos todos piegas, nem histéricos. Aliás, muitos de nós, no nosso anonimato, às vezes com dificuldade em nos expressarmos ou falarmos português da melhor maneira possível, temos muito mais sentido de Estado do que o senhor Pedro Passos Coelho. E embora muitos de nós, repito o MUITOS DE NÓS porque somos realmente muitos, saibamos que era bem melhor emigrar do que ficarmos aqui a ser mortos aos poucos, delapidados, frustrados, deprimidos, enganados, nunca o diríamos às pessoas que lideramos. “Eu, o vosso querido e amado líder, mando-vos embora, porque a minha forte liderança não suporta tanta gente”.
Resolver não é demitir nem demitir-se. Ajudar não é dar palmadinhas nas costas. Liderar não é ser cego e surdo, falando com uma voz colocada mas um discurso vazio, criado nos tempos da juventude partidária e estanque desde então.

Além de estarmos indignados, somos todos mais esclarecidos do que se foi em tempos. Não queremos a privatização da RTP a nenhum custo e lamentamos que algumas privatizações tenham sido realizadas sem a menor visão de futuro, sem qualquer sentido de Estado, sem a mínima demonstração de ligação ao país.
A RTP, por exemplo, é uma casa em que alguns bonecos e bonecas do entretenimento ganham acima das nossas possibilidades, havendo, por exemplo, jornalistas que, nem no topo das suas carreiras, ganharão um quinto desses valores. Esses bonecos não têm a culpa, dado que parece evidente que não obrigaram ninguém, com uma pistola em punho, a pagar-lhes valores tão elevados. Não é preciso privatizar, nem sequer racionalizar (verbo tão ao gosto de gestores iluminados); basta ser razoável e não ser alheio à realidade nem ao que se passa fora dos condomínios fechados, dos carros com vidros fumados e dos restaurantes com entradas restringidas ao chamado cidadão comum.
Por muito que se queira denegrir a imagem do cidadão português, salientando o seu desinteresse, desleixo, relaxamento, há muita gente que tem orgulho em ter uma companhia de bandeira como a TAP, uma televisão pública como a RTP, ou um banco como a Caixa Geral de Depósitos. Quando se discute a questão do serviço público de televisão ou tudo o que poderia melhorar relativamente à TAP ou à CGD, pensa-se na construção de algo ainda melhor e não em sacudir a água do capote da maneira mais fácil, que é privatizar. As gorduras do Estado não estão nos pés; estão no estômago e nas caras bolachudas!

Portugal é o país do Fado, inclusivamente com o justo reconhecimento da UNESCO, mas tinha deixado de passar a ideia de ser um país da tristeza; começava a haver mais humor, mais alegria, mais cor, mais olhares virados para o futuro. Agora, temos jovens deprimidos, adultos sem esperança no olhar, idosos mortos antes de o estarem clinicamente; até pasmei quando ouvi um militar (sim, desses que são rijos e não choram) admitir, numa estação de televisão, ter acordado uma noite destas a chorar, devido ao estado a que chegou o país. Felizmente, sabemos que estão atentos, que se mantêm discretos mas atentos.
E nós, todos os que também temos vontade de chorar muitas vezes perante o que vamos vendo e ouvindo, que nos indignamos por haver pessoas a passar fome, que lutamos para ter um trabalho, para produzir, para lutar pelo país e pelo seu avanço, que estamos do lado dos polícias que, inexplicavelmente, têm menos direitos e garantias do que os ladrões, também estamos atentos.
Estamos prontos para sair à rua, mesmo os que nunca o fizeram, mesmo aqueles que ainda vão lutando na sombra contra o actual estado de coisas, manifestando as suas opiniões apenas por escrito ou em determinados contextos em que tal se mostre relevante.

Do Euro 2004, tem-se a ideia que já se tinha antes: gastaram acima das nossas possibilidades, construindo mais estádios do que era necessário. É indubitável. Mas desse Campeonato da Europa de futebol, neste momento há que reter o refrão da música de Nelly Furtado, que nunca pensei que viesse a ser tão útil: “como uma força que ninguém pode parar”.
Não estamos dispostos a empobrecer indignamente como em alguns países asiáticos, depois de a nossa classe política ter fantasiado um Portugal demasiado próspero, gastando o que não lhes pedimos para gastar. Não estamos dispostos a esquecer o que se passou com o BPN, com as suas gentes e os seus dinheiros. Ninguém está disposto a ser tratado eternamente como mentecapto, ignorando o que se está a passar e como está a passar-se.
Podemos não ter as armas tradicionais com que se fazem as guerras, mas não temos medo de ir à luta nem estamos dispostos para continuar a ser comodistas.
Vamos ter coragem!

Wednesday, September 19, 2012

Pergunta feita após o Celtic-0-Benfica-0

'Mister' Jorge Jesus, foi por ter cara de anão que o Miguel Vítor não jogou hoje, sendo preterido, quer pelo Jardel, quer pelo André Almeida? Olhe que ele tem 1,84 metros...



Ou foi por ter quatro nomes próprios (Miguel Ângelo Leonardo Vítor)?