Tuesday, November 16, 2010

Verdade ou consequência

André Villas-Boas é um dos nomes mais falados em Portugal e começa a ser, cada vez mais, uma figura de algum relevo nos meios de comunicação social internacionais, como comprova o recente trabalho do jornal espanhol Marca, que destaca o início de época do F.C.Porto, ainda melhor do que o do Real Madrid.
As diferenças entre o treinador do Real, José Mourinho, e o seu discípulo no modo de encarar o futebol dentro das quatro linhas são escalpelizadas amiúde, bem como se lembra, por vezes, que a relação profissional entre ambos terá sido quase uma mera ligação entre o patrão, que delegava as tarefas, e o prestador de serviços, que visionava jogos e fazia relatórios dos mesmos.
Se colocarmos o foco em Villas-Boas, sem procurar o inevitável elemento de comparação, percebemos o esforço hercúleo que desde sempre tem feito para se dissociar do mestre, da mesma forma que um filho aplicado, e com vontade de se afirmar profissionalmente, procura ocultar a sua descendência de uma emérita figura pública. No entanto, o jovem André esbarra, como todos esses pós-adolescentes, num apelido que lhes estará para sempre associado: neste caso, Mourinho.
Para já, Villas-Boas tem tido o mérito de jogar o jogo da verdade ou consequência sem adversários que lhe coloquem questões incómodas. Possui, até, fiéis seguidores. Quando Miguel Sousa Tavares escreve que “5-0 ao Benfica foi a demonstração do que é, realmente, a verdade desportiva” está, ele próprio, como adepto, a corroborar as palavras do seu treinador.
Porque André Villas-Boas repete que o F.C.Porto continua a dar o grito de revolta em relação ao ano passado, assumindo que o terceiro classificado do campeonato anterior, clube que ele não representava, foi prejudicado. Não promete, contudo, acatar hipotéticas referências semelhantes dos seus opositores, pelo menos, nas primeiras jornadas da próxima época.
Por outro lado, salienta os méritos de Jorge Jesus pelo trabalho anteriormente realizado, insuficientes, ainda assim, para silenciar a revolta da sua equipa. Continua a defender a liderança de Jesus, apesar das derrotas, suscitando a mais legítima das dúvidas: admira realmente os conhecimentos futebolísticos do treinador do S.L.Benfica ou opta por defendê-lo graças a uma filosofia de que, para os seus adversários, quanto pior, melhor? Ou estará à espera de alguma grata retribuição num eventual momento de aperto?
Há quem ainda não se tenha esquecido da sua ira após o primeiro empate em jogos oficiais, diante do Vitória de Guimarães, seguida de um posterior pedido de desculpas pelo equívoco em que se baseara a sua fundamentação. Neste capítulo, aproximou-se claramente de Mourinho na eficácia com que as mensagens vão passando, ora polícia bom, ora polícia mau, como se estas dualidades lhes fossem imprescindíveis à manutenção do equilíbrio.
Na véspera do jogo particular entre Portugal e Espanha, um empate nos elogios: Raúl Meireles considerou os métodos de Villas-Boas fantásticos, enquanto Marchena lembrou a qualidade já patenteada por Mourinho quando se cruzaram no Benfica, há dez anos.