Sunday, February 26, 2012

C

Coincidências
Costuma dizer-se que “não há coincidências”. Suponho, de resto, que se utilize tantas vezes e com tamanha força esta expressão que Margarida Rebelo Pinto tê-la-á achado ideal para dar título ao seu segundo romance. Acresce informar que só por coincidência momentânea aparece aqui o nome da escritora, o que é bem diferente de afirmar que apenas por mero acaso esta ganha a vida dedicando-se à escrita.
Feito este intróito, não quero deixar de manifestar a minha preferência por uma outra expressão não totalmente diferente da primeira, mesmo que esta sempre me tenha soado melhor em castelhano: no lo creo en brujas, pero que las hay, las hay.
Suponho que as bruxas também sejam seres dedicados ao estudo dos signos, mas numa perspectiva bastante diferente daquela à qual Ferdinand de Saussure se dedicou.
Por bruxa não entendamos apenas uma mulher de vestes pretas, uma verruga na cara e uma vassoura que lhe atravessa o corpo de forma oblíqua. Bruxa pode ser qualquer uma das vossas colegas de trabalho, a vizinha do segundo esquerdo ou do quarto direito, ou ainda a passageira frequente do comboio da CP, que todas as manhãs faz o percurso entre as estações de Rio de Mouro e Campolide. E mesmo quando não se tratam de pessoas que escrevem Çignos em vez de signos, ou que não reparam na casualidade de a letra C ser a única que começa mais do que um signo astrológico (capricórnio, carneiro e caranguejo), não estão livres de serem uma bruxa.
Apesar de não acreditar em bruxas e de abandonar neste preciso momento a minha abordagem às mesmas, continuo a achar uma terrível coincidência que o Carnaval (do Rio) e a grande festa do Cinema americano (assente numa Hollywood desejosa de se exibir ao resto do mundo por via da cerimónia dos Óscares) decorram, anualmente, em datas tão próximas uma da outra.
Assim como estou convicto de que não há coincidências no facto de a tão falada crise estar espalhada um pouco por todo o mundo Ocidental: deve-se mais à falta de carácter de alguns governantes, ao compadrio e à confusão entre as contas de somar e de sumir, e ainda à ausência de coragem para trabalharem em nome de causas e não em prol das suas próprias e fúteis coisas.

Sunday, February 05, 2012

O Galo (continuação)

“A quem acenam aqueles lenços?
De quem os assobios que ouço?”
Disse o Domingos, derrotado outra vez,
E no cepo colocou o pescoço,
“Quem vem fazer o que só eu faço,
Que treino com tanta classe,
Provocando nos preguiçosos repúdio?”
Sem paciência, o mister disse:
“Outra vez tu, Cláudio?”