Há muitos anos, quando estudava Comunicação Social, disse, a propósito de algum tema irrelevante, trazido à liça numa das inúmeras aulas desinteressantes que tivemos: «encarnado não é cor».
Durante o tempo em que as hormonas descontroladas de certos colegas falaram mais alto, ouvi-os a parodiar aquela afirmação.
Nesta quadra natalícia, gostava de dedicar-lhes uma passagem de «Sandokan & Bakunine», um livro da autoria de Bruno Margo que, curiosamente, estudou Ciências de Comunicação.
«Atrás de Artur, reflectido no espelho, Bakunine comentou:
- Sim, encarnados é que era.
- Encarnados?
- Sim.
- Os dentes não são encarnados.
- Claro que não. - Fez uma ligeira pausa. - Os dentes são brancos de leite. - Terminou a frase com um uivo. - E não é encarnado, é vermelho.»
Bom Natal a todos!
Tuesday, December 23, 2014
Friday, October 17, 2014
Luis Sepúlveda em «Uma história suja»
A capacidade de assombro
(...)
«Para que as pessoas possam ir aos restaurantes, hotéis e bares precisam de dinheiro, e portanto de trabalho seguro e assegurado. Na verdade, ninguém se espanta perante semelhante desproporção? É verdade que a Espanha tem os serviçais e criados mais bem preparados do mundo. Filólogos, cientistas sociais, engenheiros de imagem e som, licenciados em Filosofia e Letras e um largo et cetera de profissões frustradas por um evidente atraso de desenvolvimento adornam os currículos do pessoal que serve nos milhares de bares espanhóis. Não é espantoso que esta realidade seja elevada à categoria de modelo imitável em toda a Europa?»
Tuesday, October 14, 2014
D
Dinamarca recebe príncipes portugueses?
A principal selecção nacional de futebol defronta a Dinamarca, em Copenhaga, daqui a pouco mais de três horas. No espírito de muitos está a
obrigação de ganhar este jogo de apuramento para o Europeu-2016, tendo em conta que todas as equipas do grupo em que
Portugal está inserido já pontuaram.
Acredito que os comandados de Fernando Santos consigam obter um resultado positivo,
ou seja, a vitória, embora o empate não me pareça um mau resultado. Este jogo não
serve para recuperar os três pontos perdidos contra a Albânia, em casa, porque isso é impossível, mas sim
para não ficarmos em desvantagem diante da Dinamarca. Importa não esquecer que
também o adversário de hoje perdeu dois pontos contra os albaneses.
Neste cenário, considero que o jogo de sábado contra a França foi um bom ensaio. Por um lado, perceberam-se as debilidades de
alguns jogadores e do actual sistema táctico. Por outro, que julgo mais importante
realçar, verificou-se que há margem de progressão da equipa e dos jogadores que
a compõem.
Até aqui, tudo me parece pacífico. O que me incomoda em
redor da Selecção é, tão-só, algumas pessoas continuarem a falar do comportamento de Ricardo
de Carvalho. Foi incorrecto e acredito que, se não foi esquecido em três anos,
não o será em 100 ou 200.
Paulo Bento, que aplicou um castigo ao
central que o próprio Ricardo Carvalho admitiu poder infligir se fosse
seleccionador, teve uma suspensão de seis meses por um acto de indisciplina
cometido ao serviço da Selecção, em 2000, após a derrota contra a França.
Nuno Gomes e Abel Xavier também foram castigados, com
oito e nove meses de suspensão, respectivamente. Rui Jorge, actual
seleccionador da equipa de Esperanças portuguesa, que parece ter grande mérito
na forma como aqueles jovens jogadores têm representado o nosso País, era um dos portugueses em campo, mas não foi castigado
como Paulo Bento, Nuno Gomes e Abel Xavier, mesmo que tivesse corrido em direcção ao árbitro
auxiliar do França-Portugal, após Zidane concretizar o 2-1 a favor dos
gauleses.
Não terá ido convidar o assistente para jantar ou beber um
gim depois de terminada a partida, até porque se dirigiu a ele de forma pouco
amistosa. O que interessa tudo isto? Nada. Ou, se interessa, é muito pouco. Porque
já passaram 14 anos. Não é por passarem «apenas» três após a fuga de Ricardo
Carvalho que o seu gesto deve ser mais valorizado ou continuar a causar tamanha indignação.
Todos têm direito a uma opinião, incluindo eu, mas gostava
que avaliassem apenas critérios futebolísticos. Daqui a nada, quando começar o
jogo, Ricardo Carvalho pode querer sair da defesa a jogar, perdendo a bola e
dando origem a um golo adversário. Nesse momento, e até durante dois ou três dias, merecerá, obviamente, ser alvo de crítica devido à sua imprudência. No entanto, no próximo fim-de-semana, há mais jogos e outros alvos para
atingir.
Há muitos jogos, é tudo muito rápido. Fale-se apenas de futebol e não de telenovelas com jogadores da bola, porque para isso há «imprensa especializada».
Este espírito português – quiçá, universal – de ser forte
com os fracos e fraco com os fortes é, no mínimo, pouco recomendável. Tal postura
tem resultado na atitude que leva a endeusar o DDT Ricardo Salgado ou o brilhante Zeinal
Bava quando estes estão no topo, havendo um estrondoso reverso da medalha e consequente ataque feroz no momento
da queda de tais figuras.
Coragem é defender-se quando todos atacam ou atacar-se quando
todos defendem. Coragem é também o que vai ser preciso, mais logo, para termos os tais príncipes portugueses na Dinamarca.
Sunday, March 30, 2014
Não digo todos os nomes
Aprecio quem consegue transmitir mensagens claras e concisas, utilizando as palavras estritamente necessárias. Foi o que fez Rui Reininho no programa Voz e Guitarra, transmitido pela RTP2:
"Eu lamento muito, David Guetta e outros Davids que andam por aí, mas aquelas coisas em Inglês não vão ficar na História de Portugal."
Descansa, David Fonseca, ninguém estava a falar de ti. A sério!
"Eu lamento muito, David Guetta e outros Davids que andam por aí, mas aquelas coisas em Inglês não vão ficar na História de Portugal."
Descansa, David Fonseca, ninguém estava a falar de ti. A sério!
Wednesday, March 26, 2014
In "A Boa Viúva", de José Vilhena
Página 13
- Tenha dó de mim, senhor D.
Bernardo, que sou uma pobre mulher sem amparo e com três filhos para sustentar.
Mais do que isso comem eles em quinze dias...
- Porque estão mal habituados,
fica sabendo! Aqui na lavoura, quanto menos banhas tiver o pessoal, melhor...
Páginas 15 e 16
(Senhor Conde D. Bernardo):
- Sua cabra! Isto quanto mais
pobres, mais peçonhentos, é certo...
Página 43
Como deveis estar recordados, o senhor D. Bernardo tinha uma péssima
pontaria quando atirava com armas de fogo, embora acertasse razoavelmente na
mouche quando usava outros instrumentos de ataque, nomeadamente as cunhas, as
ameaças e extorsões políticas e as pressões económicas.
Página 65
- (...) Sei de fonte limpa que há por aí uns sacanas de uns juízes que têm
a mania de aplicar o código a torto e a direito e tanto se lhes dá mandar
dentro o Côdeas como o Conde das Fajozas...
- Devem ser tipos que vieram do nada, com toda a certeza. – observou perspicazmente
a D. Mafalda – Gente sem princípios e de formação esquerdista...
Monday, March 24, 2014
A Lâmpada de Aladino
Desventura final do capitão Valdemar do Alentejo
"Somos homens livres, irmãos do mar sem chicote nem amos, a cada um o que não cause inveja, a todos tecto, lareira e uma enxerga."
"E, no entanto, não sentia medo, porque tinha feito da sua vida o que o coração lhe ditara e dava-a por bem entregue."
Luis Sepúlveda
"Somos homens livres, irmãos do mar sem chicote nem amos, a cada um o que não cause inveja, a todos tecto, lareira e uma enxerga."
"E, no entanto, não sentia medo, porque tinha feito da sua vida o que o coração lhe ditara e dava-a por bem entregue."
Luis Sepúlveda
Monday, March 17, 2014
Thursday, March 06, 2014
Isto é outra conversa, in A Bola TV
Em entrevista a Leonor Pinhão, o professor Manuel Sérgio foi o exemplo vivo de que vale a pena haver quem pense. Aqui ficam duas pequenas amostras:
"A praxe é uma prática fascizante (...) porque sempre que o Homem é objecto e não é sujeito, a prática é fascizante."
"Temos que fazer um mundo novo. Mesmo a falar de futebol, o nosso fito tem que ser outro: tomar partido, não ser neutro."
"A praxe é uma prática fascizante (...) porque sempre que o Homem é objecto e não é sujeito, a prática é fascizante."
"Temos que fazer um mundo novo. Mesmo a falar de futebol, o nosso fito tem que ser outro: tomar partido, não ser neutro."
Subscribe to:
Posts (Atom)