Monday, March 26, 2012

C

Companhia
É quase impossível ouvir a palavra companhia sem sermos remetidos para os mais diversificados universos. Mas, para mim, existe uma direcção principal, que se sobrepõe às demais: Duarte e Companhia. Esta série portuguesa, mesmo com o passar dos anos, não abandona o meu pensamento e assemelha-se cada vez mais a um Porto Vintage – não pára de melhorar com a voraz passagem do tempo.
Convém referir que, apesar de Duarte se considerar “um aventureiro, detective destemido, o primeiro a chegar quando tudo está tremido”, a sua postura era exactamente igual à do Tó, o seu funcionário que admitia que “se não houver sarilho, para mim é bem melhor”.
Sobrava a verdadeira companhia, que era a Joaninha, uma mulher de armas que, por ser tão fortemente inabalável, acabava por afastar todos os homens, nomeadamente aqueles durões lusitanos da década de 80 que, ao primeiro olhar, se enamoravam dela, mas que à primeira pancada passavam a temê-la.
Joaninha, por educação, jamais utilizaria as suas técnicas de luta para atacar o chefe. Era por chefe que ela tratava o Duarte. E por Tó que tratava o primo, simultaneamente colega e reivindicativo em relação aos salários em atraso.
Por outro lado, havia companhias menos desejáveis para Duarte: a mulher, o que seria de estranhar, e a sogra, o que já pode não ser assim tão exótico. A verdade é que, tal como a Joaninha, essas duas senhoras eram verdadeiros tanques de guerra, prontos a abater qualquer figura mais ousada que se lhes atravessasse ao caminho.
Ainda que os jovens imberbes que viram Duarte e Companhia quando a série foi transmitida pela primeira vez pudessem tentar apreender alguns dos truques de engate que Duarte utilizava, ou acreditar que a leitura atenta que o Tó fazia do jornal A Bola era um importante passo no desenvolvimento cultural de um homem, a verdade é que a acção propriamente dita vinha das… companhias.
Fossem os saltos mortais ou as piruetas da Joaninha, o tijolo embutido na mala de senhora da sogra de Duarte, ou os socos mais contundentes da esposa do “aventureiro, detective destemido”, era desta sensibilidade feminina que emanavam os grandes actos de justiça!
Posto isto, cabe-me enunciar, da forma mais delicada que souber, que outras companhias interessam aos diferentes tipos de pessoas que pululam pela nossa praça:
Companhia Teatral do Chiado – muito respeitada pelas gentes da cultura, acaba por interessar a muito poucos; afinal, estamos em Portugal, um país coerente, que pretende ser pobre… a todos os níveis.
Companhia Nacional de Bailado – poderia copiar o que escrevi no ponto anterior e colar neste, mas vou aproveitar para referir que, nesta Companhia, constam mais nomes estrangeiros do que na primeira. Para aqueles que possam ficar na dúvida perante esta última informação, não se trata de uma selecção das melhores strippers de Lisboa, Porto e Bragança. Estas bailarinas andaram mesmo no Conservatório!
Perfumes e Companhia – onde vão a correr aquelas meninas e senhoras que julgam que um espectáculo na Companhia Teatral do Chiado ou na Companhia Nacional de Bailado é igual a uma saída para uma festa da Pichucha de Mello e Chantilly na Kapital.
Dr. Passa Para Cá A Massa Que Eu Ponho-te Magra Em Três Tempos… e Companhia – para os “jornalistas” das revistas cor-de-rosa, aqui vai o alerta: ou escrevem o nome da acompanhante (primeiro e último, não se esqueçam), ou referem apenas Dr. Passa Para Cá A Massa Que Eu Ponho-te Magra Em Três Tempos, e acompanhante, na Kapital. Não precisam de nos explicar se ela é de luxo ou não; o povo percebe essas coisas. Mas é acompanhante, não é companhia!
Doces e Companhia – sítio aonde a acompanhante se deslocou demasiadas vezes, obrigando-a a consultar o Dr. Passa Para Cá A Massa Que Eu Ponho-te Magra Em Três Tempos.
Colchões e Companhia – loja onde o Dr. Passa Para Cá A Massa Que Eu Ponho-te Magra Em Três Tempos vai levar a acompanhante para que esta escolha em que formato de colchão terá de fazer os sacrifícios para… emagrecer. Fecha-se uma porta, abre-se uma janela. Emagrece-se na barriga, engorda-se na carteira.
Vitaminas e Companhia – sítio onde almoçam as meninas que mais tarde irão à loja dos Perfumes e Companhia.
Fraldas e Companhia – a grande preocupação de alguns dos meus amigos da minha geração, para quem as noitadas passaram a ter uma outra expressão semântica.
Companhia de Seguros Açoreana – amiguinhos, compreendo que o vosso objectivo seja emitir novas apólices, não deixar anular as antigas, conseguir novos clientes, especialmente se forem empresas que vos garantam prémios altos. Mas digam-me lá: custava muito saber que açoriano e açoriana se escrevem com um “i” a seguir ao “r” e antes do “a”?
Batatinha e Companhia – tal como no caso do Duarte e Companhia, existe a dúvida sobre quem é mais importante: a companhia ou o primeiro interveniente. Confesso que, tratando-se de palhaços, nunca sei se algum será realmente importante. As crianças, por seu turno, parecem oscilar entre o medo que sentem por aqueles narizes vermelhos e maquilhagem típica de uma velha prostituta de um cabaré decrépito do Bairro Alto, e um riso incontido e inexplicável perante mãos e pés artificiais e de tamanho desproporcional. No entanto, para desempatar, acabo por eleger o Batatinha como a companhia ideal do Companhia e não o contrário. E porquê? Porque o Batatinha entrou em O Último a Sair, da RTP1, e achei bastante ternurenta aquela amizade que se formou entre ele e a Gorda!

Sunday, March 18, 2012

Saturday, March 03, 2012

O Galo (conclusão)

Três vezes a liderança se esfumou,
Três vezes pontos o Benfica perdeu,
E disse no fim de os perder três vezes,
“À frente tentei ser mais do que eu:
Ganhar um campeonato que não é meu;
E mais que o Porto, que a equipa teme
E chega a antever o fim do mundo
Manda a verdade dizer que não foi galo,
Que já será uma sorte ficar em segundo!”