Thursday, February 01, 2007

Viver à conta do pincel

João Santos apresentou ontem a sua primeira exposição de pintura a solo, sem a presença dos quadros dos amigos do costume, Pedro Soares e Fátima Rodrigues.
Os presentes encontraram-no com um pincel atrás da orelha, qual merceeiro com o lápis, dando as boas vindas aos visitantes. Apesar da calvície em estado bastante avançado para a sua idade, e da pêra que não disfarça o seu ar de artista meio enlouquecido, João Santos caminha para os 50 anos com um ar quase tão jovem como a sua filha adolescente, a Joana.
Na galeria onde expôs as suas obras, proliferavam relatos de toda a sua actividade artística ao longo da vida. Lembravam as suas poesias na adolescência, aquelas que lhe saíam nos intervalos dos treinos e campeonatos de luta livre, para os quais precisava de fazer dietas rigorosíssimas, sob pena de ser excluído das competições, por peso a mais. Hoje, olha-se para a sua barriga protuberante e percebe-se o motivo daquele esforço.
Relatavam ainda a sua entrada na Faculdade de Direito e consequente desistência, no pós 25 de Abril de 1974. Nesse Período Revolucionário Em Curso, apostou antes numa licenciatura em Educação Física, para contrariar os pais. Foi também recordada a sua dedicação aos cartoons que fazia para diversos jornais e uma iniciação nas danças de salão, para conhecer ainda mais miúdas.
Terminaram aquela narração referindo a sua desistência do ensino do desporto aos jovens, devido à sua aposta total na pintura, que já lhe permite ganhar a vida desse modo, o que era pouco expectável em Portugal.
Quando João repara, enfim, que aquela pequena multidão já leu tudo o que tinha a ler e que está, finalmente, centrada na sua pessoa, agarra no pincel que tem sobre a orelha, puxa-o, molha-o na tinta vermelha e desata a salpicar os convidados, como forma de agradecimento pela sua presença.

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