Monday, January 31, 2011

Presidenciais 2011

Faz hoje uma semana que a Presidência da República de Portugal mudou. Mas, tal como na história de O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa, mudou-se para que se mantivesse tudo na mesma.
Por um lado, percebe-se a opção dos portugueses. Se podem conviver com o cordial espírito algarvio durante todo o ano, por um período de 10 anos, por que motivo hão-de esperar pelo Verão para serem mal servidos?
Por outro lado, é sempre bom ter um economista como Presidente, especialmente quando as campanhas eleitorais se centram nas avaliações de carácter, como o próprio Cavaco Silva referiu. Nesse campo, o professor mostrou-se igual a si mesmo, sem falsas humildades.
Ficámos todos a saber que não há nenhum português mais sério do que ele, ou seja, temos a personificação perfeita do namorado ou namorada, marido ou mulher, que, numa situação de menor confiança do companheiro, não apresenta nenhum álibi, dizendo-lhe apenas que é uma pessoa séria e que isso é o bastante para se tornar confiável. Basicamente, é o mesmo argumento que as crianças utilizam quando estão a perder uma batalha retórica, tentando pôr-lhe cobro com um desarmante “cala-te”.
Cavaco não o disse, mas aposto que todos os dias, antes de se deitar, olha-se diante de um espelho protegido por mogno e diz para a sua Maria, que, repousando no leito conjugal, aguarda ansiosamente pelo seu Aníbal: “sou um português acima da média, da moda e da mediana”.
Graças a pensamentos tão elevados como o supracitado, Portugal continua a ser um país que lidera no campo das melhores estatísticas apresentadas pela União Europeia. Sempre fomos muito bons na arte de aldrabar…
Mas falemos então dos derrotados, aqueles senhores que não tendo ganho fosse o que fosse, gritaram ‘vitória, vitória, vitória’.
Mais do que candidatos, foram representações míticas das personagens que ainda hoje povoam as memórias dos cidadãos com mais de 30 anos. Manuel Alegre desempenhou o papel de Batatinha, coadjuvado pelo Companhia. E se os dois palhaços se zangaram devido a uma muito provável discussão de narizes, o poeta ter-se-á apercebido, pela frieza dos números, que não precisava da Companhia do Partido Socialista. Não foi por acaso que se criou o ditado popular “mais vale só do que mal acompanhado”. Antes Alegre, agora triste…
Por seu turno, Fernando mostrou que é Nobre; mas as salsichas também o são e não é por isso que temos uma como principal figura do Estado português, com ketchup e maionese.
Já Francisco Lopes, olhado pelos sempre perspicazes analistas políticos como o senhor que se segue no Partido Comunista, tem um caminho a fazer. Só não se percebeu ao certo se é o caminho de regresso à vida de electricista ou o caminho da reforma antecipada, originada por alguma tendinite irremediavelmente incurável.
Mas os maiores destaques vão para os últimos classificados. José Manuel Coelho cotou-se claramente como o professor Neca da Política: canta e encanta, mas no final não ganha nada.
Defensor Moura, apesar de não ter ultrapassado os vários obstáculos que lhe foram colocados, deu sempre ideia de ser o antigo capitão da equipa portuguesa que terá ganho mais vezes os Jogos sem Fronteiras – a formação de Moura.
A verdade é que estes candidatos foram paupérrimos, ao ponto de o cantor e actor Manuel João Vieira, eterno candidato à Presidência da República, ter pudor em avançar até às urnas. Perdeu, muito provavelmente, a melhor hipótese da sua vida para poder cumprir o que vem prometendo há largos anos: “só desisto se ganhar”.

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