Sunday, December 25, 2011

B

BANANA
Quando se fala de banana junto de uma população particularmente despretensiosa, cujas idades podem variar entre os 15 e os 45 anos (ao lançar estes números, utilizo apenas a noção de estimativa, esquecendo completamente a exactidão), a probabilidade de haver risota é bastante grande: seja porque alguém lamenta não ter conseguido comer uma banana por inteiro; seja porque outro dos intervenientes na conversa revela não gostar das bananas da Madeira (por serem pequenas); ou ainda porque alguém assume a felicidade de não ter escorregado naquela casca de banana que se encontrava em pleno passeio, apesar de aquele objecto verde suspenso num poste (mais conhecido como caixote do lixo) estar ali tão perto.
De facto, a palavra banana pode ter várias conotações de cariz sexual (e até musical, se recorrermos a “Como o macaco gosta de banana”, de José Cid), mas, na realidade, não passa de um conjunto de seis letras que designam um fruto de cor verde (antes de estar maduro) que se metamorfoseia em cor amarela quando fica maduro.
O problema é que para quem, como eu, leu ‘As minhas aventuras na República Portuguesa’, a vontade de mudar o título do livro de Miguel Esteves Cardoso para ‘As minhas aventuras na República das Bananas’ é grande. Actualmente, Portugal é isso mesmo: uma república das bananas, governada ora por bananas que são sérios (mas não deixam de ser uns bananas), ora por mãos de ferro coordenadas por espíritos determinados mas com vidas escorregadias (como as cascas de banana).
Já para quem gosta de futebol, o remate em banana é enfatizado por ser um gesto que dignifica quem o executa, salientando os especialistas nessa matéria que, tal proeza (a de efectuar um remate em arco), só está ao alcance dos predestinados.
No campo do desporto aventura, o Verão é pródigo em levar alguns homens de assumida masculinidade a montarem-se (literalmente) numa banana (de plástico) puxada por uma mota de água. Há quem se regozije com esse triste espectáculo que junta várias pessoas ostentando coletes salva-vidas fluorescentes em cima de uma banana que mais parece um martelo pneumático, que abandonou a sua missão perfuradora e vertical em terra para se dedicar a uma missão de transporte e horizontal no mar. Até hoje, continuo sem descobrir tais encantos!
Voltando ao fruto propriamente dito, é inesquecível aquela lição de algumas avós que, sendo oriundas de famílias mais endinheiradas e tendo ganho certos tiques de linguagem, optam por não repreender a preguiça dos netos que preferem comer uma banana em detrimento de outro fruto, por ser fácil descascá-la, louvando antes, com um tom de voz quase teatral, a aposta destes nesse fruto tão rico em potássio e que ajuda a evitar as cãibras na adolescência.
Quem em tenra idade tomou consciência de que a banana tem potássio, sorrirá sempre de maneira diferente da pessoa a quem, no mesmo período etário, foi dito que “banana mole não serve”.

BETWEEN

Segundo um dicionário de Inglês/Português da Porto Editora, de 1989, a palavra inglesa between é uma preposição que significa “entre, no meio de (duas pessoas ou coisas)”.
Berlim esteve durante 45 anos do século XX dividida entre a República Democrática da Alemanha e a República Federal da Alemanha, tendo sido o seu Muro um dos expoentes máximos da Guerra Fria entre os Estados Unidos da América e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Actualmente, existe uma Alemanha unificada e uma única Berlim, rica pela diferença e não pela divergência. Mas a História não deve ser apagada (nem repetida)!
Belfast, que é a capital da Irlanda do Norte, continua a estar no meio de duas facções: católicos de um lado (próximos da República da Irlanda) e protestantes do outro (fiéis à Coroa Britânica). Apesar de a guerra no território irlandês (ou das duas Irlandas) já ter tido dias mais sangrentos, é impossível, para quem já esteve em Belfast, esquecer que há ruas onde de um lado só caminham católicos e do outro só passam protestantes.
Ultrapassar determinado limite, nessas ruas, pode causar o derramamento de muito sangue. Continuo a ser a favor de alguns limites; mas não destes!
Budapeste não está entre nem no meio de duas pessoas ou coisas; é o mítico rio Danúbio que está no meio da capital húngara, marcando (sem conflitos) a distinção entre Buda e Peste. Cidade que deu azo à criação de uma música, há quase duas décadas, que tornou o nome do grupo musical português Mão Morta mais conhecido, Budapeste é uma cidade elegante e discreta, mas ao mesmo tempo imparável, provando que tudo é mais saudável quando serve para unir ao invés de separar.
Balaton é um lago situado também na Hungria e que, à semelhança do Danúbio em Budapeste, não divide; agrega. Apesar dos seus quase 600 km2 de superfície, e de ter vários pontos de interesse como Tihany e a sua península, ou ainda Badacsony, Balatonfüred, Fonyód, Balatonberény e Siófok, o Lago Balaton é uma marca de orgulho e de união para a população magiar.
Benfica, Sport Lisboa e Benfica. Nascido da fusão entre o Sport Lisboa e o Grupo Sport Benfica, começou por unir. Mais tarde, sem precisar de dividir, reinou. Depois cresceu. Entretanto caiu. Desejam os seus sócios e simpatizantes que já se tenha levantado.
Alfabeticamente, encontra-se entre o Futebol Clube do Porto e o Sporting Clube de Portugal. Desportivamente, está no meio de uma crise existencial: a de saber se é realmente o maior clube português, por ter conquistado mais títulos nacionais de futebol do que todos os outros, ou admitir que já perdeu essa posição para o Futebol Clube do Porto, que possui mais títulos internacionais.
Como em quase tudo na vida, está-se quase sempre entre uma coisa e outra, entre o bem e mal, entre a direita e a esquerda, entre o preto e o branco, entre baptizar ou deixar a escolha para quando a criança crescer. Ou no meio de duas pessoas: mãe e pai, um filho ou outro, a mulher que esteve ou a que há-de vir, o presidente da república ou o primeiro-ministro.
Se falarmos em Bizâncio, estamos entre dois mundos, entre dois continentes, entre duas religiões, e até entre outros dois nomes: Istambul e Constantinopla.
É a vida!

BARRIO LATINO
Era muito fácil escolher Bono, mesmo que esse não seja o seu verdadeiro nome. E era demasiado óbvio para mim. Não deixava também de ser justo, por muito que alguém que muito estimo, embora não conheça pessoalmente (Herman José), tenha um ódio de estimação pelo Senhor Paul David Hewson, a voz dos U2.
Mas a minha última selecção para a letra B vai para BARRIO LATINO Paris By CARLOS CAMPOS, álbum de 2003. Contando com dois discos, Cenando e Bailando, bastou ouvir a música Amor De Siempre num café/restaurante de Podgorica (antiga Titogrado) para logo procurar saber do que se tratava.
Decorria o dia 3 de Novembro de 2003. Dois dias mais tarde, consegui adquirir o álbum numa discoteca de Budapeste, antes de correr apressadamente para apanhar um comboio que me levaria a Cracóvia, onde ouvi, pela primeira vez, Cenando e Bailando de uma ponta à outra.
É uma história simples, quiçá demasiado fútil, mas se até hoje não foi esquecida, provavelmente é porque BARRIO LATINO Paris By CARLOS CAMPOS não é só a música Amor De Siempre; é amor para sempre.

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